3Então chegaram ao pé dele os
fariseus, tentando-o e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por
qualquer motivo? 4Ele,
porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no
princípio macho e fêmea os fez, 5E
disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão
dois numa só carne? 6Assim
não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe
o homem. 7Disseram-lhe
eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? 8Disse-lhes ele: Moisés, por
causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas
ao princípio não foi assim. 9Eu
vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de
fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada
também comete adultério. 10Disseram-lhe
seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não
convém casar. 11Ele,
porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem
foi concedido. 12Porque
há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram
castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do
reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o. (Mateus 19)
O Interesse Obscuro Dos Fariseus
O Senhor Jesus entendeu a verdadeira intenção dos
fariseus, tanto que Mateus revelou que eles queriam “tentá-lo” (testar, provocar) quando o abordaram com esta capciosa
pergunta. Mas o Senhor dos senhores aproveitou a deixa para esclarecer o verdadeiro
intento dos fariseus: se separar para casar novamente. Ninguém pensava em se
divorciar para viver uma vida celibatária. Se assim fosse, esta discussão não
existiria. Por esta razão Jesus toca no assunto que não está sendo discutido,
mas que existe como pano de fundo: o casamento de divorciados.
Eles queriam saber (e nós?) se Jesus estava de
acordo com o divórcio, aparentemente. Jesus disse que não. Uma vez casado,
casado até a morte. Certamente eles não queriam saber a opinião de Jesus sobre
o divórcio, simplesmente. Eles se divorciavam à vontade. Eles queriam saber se
poderiam casar novamente, quantas vezes quisessem. Os opositores de Jesus
queriam atacar a Jesus em várias frentes.
Eles sabiam que uma resposta qualquer poderia
arranhar a reputação de Jesus. Era visível e inegável que Jesus era popular. A
posição dos fariseus e outros religiosos estava sendo ameaçada pela simpatia
que o Filho do Homem gozada entre os populares que queriam até elegê-lo rei
(João 6.15). O povo, comparando-O com os escribas, percebeu que os ensinava com
autoridade (Mateus 7.29). Com inveja dele (Mat.
27.18; Mc 15.10), os fariseus não faziam outra coisa a não ser tentar destruir
Sua reputação e popularidade. Como fariam isso?
Muitas situações constrangedoras foram criadas por
eles para “pegar” o Mestre em alguma contradição. Queriam envergonhá-lo e
“queimar” sua imagem junto ao povo judeu. Muitas delas foram pacientemente
engendradas pelos pensadores da época. Assuntos acerca da ressurreição, da
guarda do sábado, do pagamento de impostos e acerca do divórcio. Este último,
até hoje uma enorme confusão. Não por causa de Jesus, mas por nossa culpa.
Como já disse, os fariseus queriam que Jesus desse
uma resposta que poderia fazer com que os judeus, de modo geral, ficassem
ressentidos com Ele. Uma matéria polêmica como essa não poderia ser facilmente
esquecida, especialmente se Jesus fosse radicalmente contra a expectativa e
prática geral. De fato, torcemos para que Jesus tenha, neste capítulo de
Mateus, libere geral.
Aproveitando A Oportunidade
Inadvertidamente, os fariseus nos deram uma ótima
oportunidade de esclarecermos esta polêmica. Sim, não há dúvida. Evidentemente
nossa condição civil vai afetar nossa conclusão. Temo que quem é divorciado e
está casado novamente não aceitará a posição deste escritor, assim como os
discípulos de Jesus se revoltaram com a posição de Seu Mestre: “Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a
condição do homem relativamente à mulher, não convém casar” (v. 10). Mas
não posso me furtar o direito de expor o que os outros chamam de teoria. Mas a
minha prática anda de acordo com esta teoria. Portanto, para mim não é uma mera
teoria, mas o conceito ético de Jesus acerca do divórcio e do casamento de
divorciados.
Além de tentar usar as palavras de Jesus contra Ele
mesmo, os fariseus entendiam que Moisés legislara o divórcio permitindo que os
motivos, para tal, fossem subjetivos. Jesus disse, contudo, que Moisés cedera à
“dureza dos vossos corações” (v. 8).
Jesus, portanto, insere seus inquiridores entre os homens duros de coração dos
tempos mosaicos. Será que Jesus está cedendo à mesma dureza de coração,
permitindo um novo casamento de quem foi traído? A traição do outro me devolve
a condição de virgindade?
O conceito geral é que Jesus defende o novo
casamento de quem foi traído. Mas quero provar que Jesus permitiu a separação
(o divórcio) de quem foi traído. É no mínimo temerário, afirmar que o Filho de
Deus contradiga o próprio Pai que é radicalmente contra o repúdio e o odeie
desde tempos imemoriais (Mal. 2.16). Contudo, Jesus aquiesceu ao fato de que o
divórcio é o mal necessário, pois é a alternativa para que não se perpetue o
adultério, uma vez que a jovem que fornicou, claro, não é mais virgem. Neste caso,
e somente neste, Jesus abre uma exceção para o DIVÓRCIO.
Quem lê o texto de Mateus 19 acima, afirma que
Jesus está a favor de um novo casamento de divorciados traídos. Só que não. Infelizmente
(digo com sinceridade) não existe qualquer passagem bíblica que sugira outra
união após o divórcio. Esta, em epígrafe, parece sugerir. Parece...
Alguns irmãos, com razão, ficam em dúvida quando
prego acerca desse assunto porque não acreditam que a Bíblia seja tão radical. Eles
não aceitam que Deus acabe indo de encontro ao anseio por felicidade dos
cidadãos desse planeta, especialmente de seus filhos. Não é de se admirar que o
Cristianismo tenha sido tão mal interpretado e rejeitado. Muitos ainda torcem
para que eu esteja enganado (eu também, na verdade) porque há muita coisa em
jogo. Porém, eu não consigo me afastar desse pensamento, e cada vez que volto a
refletir sobre ele, mais minha convicção e consolidada. A verdade verdadeira é
que nos sentimos ofendidos quando alguém chama o casamento de pecado, pois
estamos acostumados a considerar todo casamento uma bênção divina (desde que a
chama da paixão e os laços do amor continuem os mesmos).
Sejamos honestos. Há quem prefira abrir mão da vida
eterna, oferecida por meio da Graça de Deus, para continuar vivendo com quem
não deveria estar casado. Não é fácil tomar uma decisão dessa magnitude, mas
ninguém disse que seria fácil entrar no céu (Lucas 16.16). É necessário avaliar
o que realmente é valioso para Deus (Lucas 16.15), mesmo que seja em prejuízo
(momentâneo) nosso. Em determinadas circunstâncias, precisamos escolher entre os
prazeres deste mundo e as glórias celestiais, assim como fez Moisés que “Pela fé, sendo já grande, recusou ser
chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de
Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo por maiores
riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em
vista a recompensa” (Hebreus 11.24-26).
Talvez não exista maior prova de fé no mundo
vindouro com Jesus, em Seu Reino Celestial, do que dizer não a si mesmo para
segui-lo (Lucas 9.23). Por isso, neste caso em especial, Jesus está dizendo: “Vocês
querem se separar, então que seja unicamente por causa de fornicação (porneia), mas não se casem novamente
para não cometerem adultério (moicheia)!”,
simples assim...
Eu não sei você, mas eu vejo Jesus querendo o
melhor para nós. Ele quer que vivamos as delícias do céu com nosso Deus e Pai.
Não está condenando ninguém, mas está dizendo que é do jeito do Pai e não do
nosso. Ele estabeleceu as regras e não deveríamos transgredi-las se realmente
cremos que existe um lar celestial esperando por nós. A decisão traz dor e
muito sofrimento, se não fosse assim não estaríamos colocando esse assunto em
pauta, mas tanta dor foi comparada por Jesus com a mulher grávida que está em
trabalho de parto. É aguda a dor, mas é passageira e, no final, ela dá lugar à
alegria de dar à luz uma criança (João 16.21).
Uma Exegese (literária, textual e cultural)
Muitos teólogos e comentaristas, até mesmo o
eminente John Stott, acreditam que é perfeitamente aceitável entender esse
texto com a certeza de que o Senhor Jesus liberou o novo casamento para aquele
que se divorciou de quem o traiu:
Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua
mulher, não sendo por causa de
fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada
também comete adultério (Mateus 19.9).
Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher,
dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua
mulher, a não ser por causa de
fornicação, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a
repudiada comete adultério” (Mateus
5.31-32).
Jesus estaria dizendo que o indivíduo traído
poderia casar-se novamente? Jesus está dizendo que o indivíduo traído pode
SEPARAR-SE, não SE CASAR novamente.
Veja bem. Se Mateus 19.9 for escrito sem a cláusula
de exceção: “não sendo por causa de
fornicação”, ficará assim: Eu vos digo, porém, que qualquer que
repudiar sua mulher e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a
repudiada também comete adultério.
Desse modo é registrado nos outros Evangelhos, isto é, sem a cláusula de
exceção:
“E ele lhes disse: Qualquer que deixar a sua mulher
e casar com outra, adultera contra ela. E, se a mulher deixar a seu marido, e
casar com outro, adultera.” (Marcos 10.11-12).
“Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra,
adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também.” (Lucas 16.18).
Fica claro que Jesus não está liberando o novo
casamento. As pessoas se debruçam sobre Mateus porque acreditam que Jesus abriu
uma exceção para o novo casamento para divorciados, mas isso não é verdade. Ele
abriu uma exceção para o divórcio: a
traição, a infidelidade. Os textos de Marcos e Lucas não deixam margens para
duvidar disso. Mesmo que tivessem a cláusula de exceção, ainda assim, não
haveria qualquer problema.
Para Ele o divórcio é inaceitável porque casamento
é indissolúvel. Somente Deus pode separar um homem e uma mulher casados, unidos
pelo ato sexual: “Portanto, o que Deus
ajuntou não o separe o homem” (v. 6). Mas por que Jesus, nesse texto em
particular, menciona o “ato sexual
ilícito” (gr. porneia)?
Essa dúvida é plausível por que não existe esta cláusula de exceção nos outros
Evangelhos sinóticos, mas somente em Mateus
(5.32; 19.9)?
Leia com bastante atenção os próximos parágrafos,
pois dirimem quaisquer resquícios de dúvidas.
O Senhor Jesus Cristo está afirmando a
indissolubilidade total do casamento enquanto o marido e a esposa estão vivos. Certo?
As cartas pastorais de Paulo, seguem nessa mesma toada, é só verificar (Romanos
7.2-3; I Coríntios 7).
Somente no Evangelho de Mateus (5.32; 19.9) estão
inseridas a ressalva “a não ser por causa
de fornicação” (note que essa é que é a correta palavra usada
inclusive por João Ferreira de Almeida em 1693 pois vem do grego “porneia”), porque isso se aplica a
situação peculiar dos judeus. Veja que em Mateus 19.1 somos informados a quem
Ele estava se dirigindo: à multidão e aos discípulos.
Havia uma circunstância especial e peculiar ao
contexto social da época. Essa foi a exata situação que inicialmente José
pensou erradamente de Maria. Os fariseus, também, cometeram esse erro, mas de
forma blasfema em João 8.41, acusando o Senhor Jesus com sendo nascido de fornicação
(porneia) e não de adultério (moicheia). Note que em Mateus 1.20 o
anjo dirigindo-se a José, chamou Maria de “tua
mulher” (esposa) embora o casamento não tinha sido celebrado e consumado,
ou seja, eles ainda não tinham se tornado uma só carne, mas eram marido e
mulher. Nesse caso, Jesus está dizendo que o casamento poderia ser cancelado,
caso houvesse fornicação, situação na qual a pessoa está a um passo do
inferno (I Cor. 6.10, Judas 1.7, Ap. 21.8).
Jesus disse que se alguém repudiar sua mulher, a
não ser por infidelidade pré-matrimonial, a sujeita ao adultério. Por quê? É
simples. Se a mulher não é mais virgem, ela já se tornou uma adúltera ao ter se
deitado com outro homem. Mas tendo ela se casado virgem e for deixada pelo
marido por qualquer outro motivo, a sujeita ao adultério. Não é óbvio?
Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua
mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério;
e o que casar com a repudiada também comete adultério (v. 9).
Note que a palavra não é o verbo adulterar (moichao), que ocorre duas vezes no verso, propositalmente não é
usada pelo Senhor Jesus para a exceção. Por quê? Teria O Mestre se esquecido?
Teria Ele perdido essa oportunidade de ser claro, usando o triste fato do
adultério para a desculpa do divórcio? Não. A palavra adultério não foi usada porque
a exceção não se aplica aos que se tornaram uma só carne, mas aos que estavam
em contrato de casamento (em hebraico: ‘aras’ ou ‘kiddushin’; em inglês: betrothal, Ex. 22.16, Lev. 19.20, Dt. 22.23,
28.30).
No mesmo Evangelho (Mat. 1.18), Maria era desposada
(gr. mnesteuo) com José e não casada
(gr. gameo). É para esse caso
especial, e apenas nesse caso dos judeus, que Jesus está se referindo, porque o
casamento não tinha se consumado. Nesse caso, o pecado é fornicação que
quebraria o pacto do “esposamento” e não de casamento. É muito simples!
A palavra adultério, “moichéia” no grego, não é repetida no texto original e,
primeiramente, diz “pornéia” que
significa fornicação ou sexo ilícito também em grego (sexo cometido antes do
casamento). Quando contextualizamos as fases do casamento citado por Cristo,
podemos perceber quão diferente era dos nossos dias e que o mesmo era divido em
três fases; noivado, contrato de casamento e o casamento propriamente dito.
Noivado: na maioria das vezes era feito pelos próprios
pais enquanto o casal ainda era criança. Esse poderia ser naturalmente
anulado e os noivos podem se casar livremente, uma vez que não tiveram
relação sexual.
Contrato de casamento: era nada
mais que a ratificação do noivado, o qual somente poderia ser defeito através
do processo de divórcio, a partir daí haveria o período de um ano para as
preparações para o casamento. Enquanto durasse esse período de contrato, o
casal era tomado como marido e esposo, sem que tivessem contato sexual ou
vivessem juntos, pois não tinham esse direito. Eram desposados. Neste caso,
ventilado por Jesus, se a mulher não for virgem, o marido pode separar-se dela.
Mas como ele descobriu que a mulher com se casou não é mais virgem? Vendo a
barriguinha crescida ou através do ato sexual. No primeiro caso, ele pode
perfeitamente casar-se porque ainda não casara. No segundo caso, que é o que
Jesus mencionou, ambos não podem se casar sem que isso incorra em adultério.
Casamento: após todas as comemorações e cerimoniais passavam
então a viver debaixo do mesmo teto e poderiam então manter relações sexuais.
Depois de cumpridas todas as fases do casamento, se
o marido descobrisse na noite de núpcias que a sua noiva não era virgem,
significava que havia sido enganado ou traído, poderia lhe dar carta de
divórcio. Isso foi exatamente o que intentou José ao saber que Maria estava
grávida de Jesus (Mat. 1.19); sendo advertido pelo anjo que era obra de Deus
(Mat. 1.20). Fato é que, até bem pouco tempo, a nossa legislação também
amparava o noivo com a anulação do casamento se a noiva não fosse virgem, tal
qual no passado.
Se você prestou bastante atenção, Jesus não
precisou afirmar que o indivíduo que não teve relações sexuais (casamento
propriamente dito) e descobriu que tinha desposado uma traidora, poderia não
somente dar carta de divórcio, mas também casar novamente. Isso, para todos,
estava fora de discussão. Era muito óbvio.
Ora, por que a cláusula de exceção não existe nos
Evangelhos de Marcos e Lucas? Por que eles dirigem sua mensagem para uma
cultura que não contempla os estágios do casamento dos tempos judaicos. Naquelas
culturas a exigência de virgindade etc., não existia. A cultura gentílica era
liberal, assim como em nossa época. Esta exigência é requerida. Portanto, o
conceito de se casar da maneira de Jesus estava sendo ensinada a uma cultura
diferente. Acredito que estas passagens foram tão estranhas ao modo gentílico
do que está sendo hoje. Ainda bem que os escritores bíblicos não cederam à
pressão e à tentação de ignorar as palavras de Jesus.
Desculpe ser repetitivo...
Como disse acima, sem ser repetitivo, mas sendo por
necessidade de clareza das ideias, como é que se pode descobrir que uma virgem
não é mais virgem? Perguntado a ela? Acho pouco provável que uma jovem que
saiba qual é o resultado de uma confissão desse tipo (I Cor. 6.10, Judas 1.7,
Ap. 21.8), seja honesta a ponto de dizer que não é mais virgem antes da relação
sexual. Ainda que saiba que poderia ser desmascarada nas núpcias.
Portanto, aquele indivíduo, mesmo inocente, acaba
sendo enganado e desgraçadamente prejudicado para o resto da vida por causa da
mulher infiel. Infelizmente, para ele, quando descobriu que fora traído, depois
do ato sexual, sabe então que não pode mais casar (ter relação sexual) com
outra pessoa, pois cometerá adultério
(não fornicação). Lembre-se, não fui
eu quem estabeleceu as regras.
No texto de Mateus 19, Jesus comenta duas situações
diferentes. Ela cometeu fornicação, pois sua relação sexual
fora antes do casamento (quando poderia, finalmente, ter relações sexuais). Ele cometerá adultério se se casar novamente, pois descobriu que fora traído
depois da relação sexual, assim como aquele que se casar com a infiel. Por quê?
Porque ela pertence ao primeiro parceiro sexual dela.
Portanto, Jesus Cristo não está estimulando o
divórcio e muito menos o casamento de divorciados. O que Ele está fazendo é
abrindo uma exceção para o divórcio: “a
não ser por causa de fornicação”, e não para um novo casamento para o
traído em caso de fornicação da traidora. Em caso nenhum pode haver um novo
casamento para quem não é virgem.
Quem quiser se separar por qualquer motivo, fique à
vontade. Mas assuma a responsabilidade e os riscos. Quem quiser se casar
novamente por qualquer razão, idem.
Ainda mais, Jesus ensinou que se alguém repudiar a
sua mulher por qualquer motivo, que não seja por fornicação, estará provocando
o pecado dela e, se ela pecar, terá participação nesse pecado. Ele faz uma
advertência para que ninguém repudie a mulher e, abre uma exceção; caso ela
cometa pornéia está permitido o
repúdio. Fora desse contexto, fiquem sem se casar, porque quem se casar com a
repudiada também comete adultério. Segundo o texto bíblico somente o homem
podia pedir o divórcio e repudiar a sua mulher, e o homem e a mulher não
estavam no mesmo pé de igualdade. Em hipótese alguma a mulher podia pedir ou
dar carta de divórcio, naquele tempo.
Note que quando a mulher é a parte inocente (desde
que ela tenha casado virgem) está divorciada, mas Jesus não reconhece nenhum
divórcio, qualificando essa outra união de adultério. Ele não precisa dizer
isso quando a mulher não é inocente na história porque ela já é adúltera, como
disse páginas acima.
Pela reação desesperada e rebelde dos discípulos em
Mateus, podemos ver que eles entenderam a gravidade do que Jesus estava ensinando.
Veja os versos 9 e 10 de Mateus 19:
“Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua
mulher, exceto sendo em caso de fornicação (porneia), e casar com outra, comete adultério (moicheia); e o que casar com a repudiada também comete adultério (moicheia).
Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à
mulher, não convém casar”.
Se eles tivessem entendido que o traído pudesse
casar novamente, não teriam reagido daquela forma.
Basear-se somente neste capítulo de Mateus para
afirmar que podemos casar novamente em caso de adultério, é ignorar deliberadamente
os demais textos inspirados. Embora Mateus pareça contradizer os outros textos
que apresentamos neste trabalho não aceitamos nem acreditamos que Jesus induz o
homem ao pecado para poder livrar-se do casamento em Mateus e em Marcos e Lucas
seja radicalmente contra. Ele expôs em que circunstância a parte traída poderá repudiar
o traidor. Porém em qualquer caso, a determinação é a mesma: um novo casamento
é adultério.
Concluindo...
Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber
esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. Porque há eunucos que assim
nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há
eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode
receber isto, receba-o. (Mateus 19.11-12)
Jesus responde à indignação dos discípulos com o
dom do celibato. Paulo concordou com Ele: “Porque
quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu
próprio dom, um de uma maneira e outro de outra. Digo, porém, aos solteiros e
às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. Mas, se não podem conter-se,
casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se.” (I Coríntios 7.7-9).
Toda alternativa bíblica está vinculada essencialmente
a se evitar o pecado (evitem o adultério, evitem o abrasamento). O problema é
só esse, pois sabemos que os nossos pecados fazem separação entre nós e Deus (Isaías
59.2).
Jesus também está afirmando, sem sombra de dúvida,
que alguns fazem a escolha pelo Reino dos céus e não pelos prazeres momentâneos
da vida terrena. Não é qualquer um que pode aceitar isso. Mas continuar numa
relação que a Bíblia considera pecado, é dizer não ao céu.
Quero deixar as palavras de Deus aos hebreus que
sofriam por terem decidido viver para glorificar a Deus e honrar a Cristo
Jesus:
Portanto nós também, pois que estamos rodeados de
uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que
tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está
proposta, Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que
lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à
destra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tais
contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais,
desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo
contra o pecado. E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como
filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando
por ele fores repreendido; Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a
qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como
filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem
disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não
filhos. (Hebreus 12.1-8).
Jesus tinha em vista “o gozo que lhe estava
proposto”. Quem acredita nisso, não tem dúvida em sofrer um pouco para gozar a
vida eterna com Deus. Mas esta palavra não é para qualquer um aceitar. Somente,
creio eu, para os filhos de Deus, como Jesus. Amém!