terça-feira, 4 de agosto de 2015

"DEUS ME FALOU, DEUS ME MANDOU TE DIZER!"


NOS RINCÕES pentecostais é mais comum, mas o tráfico de influência está em uso em todos os ambientes chamados evangélicos. O TRÁFICO DE INFLUÊNCIA, tipificado crime no Art. 332 do Código Penal é um dos crimes praticados por particular contra a administração em geral. Consiste em solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função. 
Nossa história recente ilustra muito bem este crime. Em 4 de junho de 1992, Pedro Collor, o irmão do então Presidente da República Federativa do Brasil, Fernando Collor, depôs à CPI daquela ano e acusou P. C. Farias de montar uma rede de tráfico de influência no governo, com a conivência do presidente. O tesoureiro de Collor, P. C. Farias, usava a influência do então presidente para angariar vantagens. O mesmo acontece com determinadas pessoas em nossas congregações que insistem em usar o nome de Deus para manipular a vida das pessoas.

Usando o nome de Deus em vão, esses falsos irmãos fazem colocações e determinam o comportamento das outras pessoas. Desejando orientar a vida de seus irmãos, arrogam o poder profético das palavras do oráculo de Deus.


“Assim diz o Senhor!”

 Profetas como Jeremias, Isaías e Amós, para mencionar somente estes, sempre que abriam suas bocas para falar ao coração do povo, diziam a célebre frase “Assim diz o Senhor!”, para que não houvesse dúvidas entre o que era subjetivo, isto é, o que seria opinião do profeta e o que realmente o Eterno Deus estava dizendo.

Hoje em dia muitos líderes e outros nem tanto, para chamarem a atenção para o que estão falando, usam o nome de Deus para dominar sobre a vida de seus irmãos. Daí, coisas absurdas e ridículas acontecem, como a história de um determinado irmão que estava em uma dessas congregações onde fenômenos sobrenaturais são mais importantes do que a genuína Palavra de Deus. Ele me disse que uma senhora se aproximou dele e afirmou: “Deus me mandou lhe dizer que Ele já separou uma varoa para o irmão!”. Só que aquele irmão já era casado! Em outra ocasião uma jovem senhora estava sentada no banco de outra congregação, quando alguém dela se aproxima e diz: “Eis que o Senhor me disse que é um menino que a irmã está esperando!” Mas não havia ninguém esperando ninguém. Aquela jovem senhora apenas tinha uma barriga um tanto quanto avantajada. Nada que um bom regime não resolvesse...

O pior é que existem líderes “consagrados” pela opinião pública que fazem o mesmo, dirigindo a vida das pessoas para o abismo como o faziam os líderes religiosos dos tempos de Jesus: “Deixai-os; são cegos condutores de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.” (Mateus 15.14). Você leu com cuidado? Jesus disse que eram líderes cegos guiando cegos. A cegueira era compartilhada pelos guiados também. É óbvio que só seguem mentirosos quem não consegue enxergar mentiras.

Existe um gosto especial por parte dessas pessoas que afluem esses lugares. Elas não têm apresso pelo estudo da Palavra. São preguiçosas e, pior, experimentam a “operação do erro” enviada por Deus, conforme II Tessalonicenses 2.10-12: “E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade.”

Crer naquelas pessoas que não leem a Bíblia e ficam fazendo joguinho de poder e tráfico de influência com o nome do Santo e Eterno Deus, também é iniquidade!



A Bíblia não permite que usemos o nome de Deus para angariar vantagens ou por desejo de ajudar alguém com mentiras. Se alguém quiser dar uma opinião ou conselho que seja honesto e diga: “Eu acho que, na minha modesta opinião, a irmã não deve usar batom!”, mas não diga que isto vem de Deus.

É uma mania muito feia e, repito, desonesta querer dar recados pessoais e impressões subjetivas sobre a vida das pessoas. Isso é fruto de vaidade e arrogância. O que se deve fazer é observar o que está na Palavra de Deus, a Bíblia.

Ela é a infalível e inerrante Palavra de Deus. Ela, sim, é seguramente a revelação da vontade de Deus para todo homem: “E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (II Timóteo 3.15-17).

O conselho bíblico – e mais do que conselho, ordem – é que procuremos a sabedoria que vem de Deus, através da Bíblia: “Filho meu, guarda as minhas palavras, e esconde dentro de ti os meus mandamentos. Guarda os meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus olhos. Ata-os aos teus dedos, escreve-os na tábua do teu coração. Dize à sabedoria: Tu és minha irmã; e à prudência chama de tua parenta,” (Provérbios 7.1-4).



Coração enganoso!

Eu fico aborrecido quando alguém diz que Deus falou ao seu coração, mas não pelo estudo criterioso e cuidadoso da Bíblia, mas por confiar em suas intuições. Acreditando que são crentes fiéis e verdadeiros, acreditam em si mesmos e em seus corações, como se já fossem perfeitos! Sem coragem de dizer o que realmente pensam, usam a fé que se tem em Deus para manipular ou impor comportamentos.

Mulheres especialmente acreditam num suposto sexto sentido, ou seja, a chamada intuição feminina. Por serem mais sensíveis, acreditam que Deus lhes dotou com este algo a mais. Para piorar as coisas, acham que Deus lhes franqueou o direito de fazer uma leitura bíblica a partir de suas intuições. O correto deveria ser o contrário. A lente através da qual enxergo a vida é a Bíblia. Tudo deve estar submetido à Palavra de Deus, inclusive nossas intuições, boas intenções e "instintos".

Davi, o homem segundo o coração de Deus (Atos 13.22), deu com os burros n’água quando, querendo construir o Templo, foi impedido por Deus. O profeta Natã acreditava que tudo que estava no coração de Davi, isto é, seus desejos, sua vontade, suas impressões eram avalizados por Deus porque era um homem santo:

Sucedeu, pois, que, morando Davi já em sua casa, disse ao profeta Natã: Eis que moro em casa de cedro, mas a arca da aliança do SENHOR está debaixo de cortinas. Então Natã disse a Davi: Tudo quanto tens no teu coração faze, porque Deus é contigo. Mas sucedeu, na mesma noite, que a palavra de Deus veio a Natã, dizendo: Vai, e dize a Davi meu servo: Assim diz o Senhor: Tu não me edificarás uma casa para eu morar; Porque em casa nenhuma morei, desde o dia em que fiz subir a Israel até ao dia de hoje; mas fui de tenda em tenda, e de tabernáculo em tabernáculo. (I Crônicas 17.1-5).



O erro do profeta foi corrigido quase imediatamente. Deus não deixou passar o dia, antes que ambos, Davi e Natã, fossem corrigidos. Nem tudo de nosso coração é correto, mesmo que se tenha muito boa intenção. Jeremias não confiava em seu coração: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17.9). Jesus afirma que o pecado tem origem no coração: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” (Mateus 15.19).

Se os membros de igreja estudassem a antropologia bíblica, iriam descobrir que o ser humano não é confiável. Ao contrário do que prega a psicologia que – nascida no coração do homem – aborda o assunto afirmando que o homem é intrinsicamente bom.

Concordo com a Bíblia quando revela que embora o crente esteja salvo, não pode ignorar o poder que a carne ainda tem sobre ele. Davi mesmo nos ensina que é preciso ter cuidado e humildade para não permitir que o enganoso coração dite nosso pensamento e consequentemente nossas ações: “SENHOR, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo.” (Salmo 131.1-2)

Paulo também, com muita honestidade, concorda com Jesus Cristo:

Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? (Romanos 7.14-24).



Ora, Paulo não era um bom crente? Paulo não era salvo? Claro, ele asseverou que sua salvação não dependia dele, pois se dependesse estaria perdido: “Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.” (Romanos 7.25). Portanto fica claríssimo que não dá para confiar em si mesmo.

Não dá para aceitar que alguém use de uma autoridade que não tem para determinar o que outra pessoa deve fazer. Também não dá para acreditar que exista tanta gente que se deixe levar por esse tipo de pessoa.

Se a gente deve desconfiar das intenções do próprio coração, imagine se se deve confiar em uma terceira pessoa que não conhece a Deus, pois que não conhece Sua Palavra?

De fato, não temem a Deus os que assim procedem. Certamente ouvirão Jesus dizer-lhes "abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7.23). Esses que dizem conhecer a Deus, e que de tão íntimos falam o que não está na Bíblia, vão descobrir que Deus simplesmente os despreza.

Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.
Mateus 7:22,23

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