Atalhos
(Mateus 4.1-11)
1Então
foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2E, tendo jejuado quarenta
dias e quarenta noites, depois teve fome; 3E,
chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas
pedras se tornem em pães. 4Ele,
porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de
toda a palavra que sai da boca de Deus. 5Então
o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, 6E disse-lhe: Se tu és o
Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos
dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces com
o teu pé em alguma pedra. 7Disse-lhe
Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. 8Novamente o transportou o
diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória
deles. 9E disse-lhe: Tudo
isto te darei se, prostrado, me adorares. 10Então
disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus
adorarás, e só a ele servirás. 11Então
o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam.
Introdução
Atalhos são desvios que encurtam
distância. Nós criamos atalhos chamados túneis. Criamos pontes, que são
atalhos. Os atalhos surgem para diminuir distâncias e, com isso, encurtar o
tempo da viagem. Precisamos ganhar tempo para proveito nosso.
Mas atalhos não existem no mundo
espiritual. Principalmente no que diz respeito à salvação do homem. Os atalhos
são na verdade perigosos, embora sejam tentadores e prometam comodidade em
contraste com o caminho que é mais difícil e mais longo. Atalhos na vida cristã
prometem o mesmo o destino, mas com um preço bem menor. É uma vantagem! É,
portanto, uma tentação. Se eu posso ter o mesmo fim sem pagar o mesmo preço que
já foi pago, por que continuar neste caminho?
Satanás é um grande construtor de
atalhos. Ele não retira você do caminho de uma forma abrupta. Ele simplesmente
oferece alternativa menos dolorosa, a princípio, mas que vai dar numa outra direção,
diametralmente oposta ao Caminho. Você cede às sugestões diabólicas porque elas
se prestam a satisfazer seu desejo de uma vida menos dificultosa e, claro, mais
confortável. Atalhos sempre são bem-vindos.
Satanás fez tudo que estava ao
seu alcance para dissuadir Jesus a mudar de direção. Ofereceu atalhos
significativos apelando das necessidades básicas até aos desejos mais obscuros
da alma humana. Satanás acreditou que Jesus, sendo homem, poderia cair em suas
ofertas de facilidade e, desse modo, desviá-lo do destino que estava proposto
para Ele.
Mais do que qualquer outra
criatura, Satanás tem ciência de quem são os indivíduos que constituem aquela
instituição que iria se levantar contra as portas do inferno e prevalecer contra
elas: a Igreja. Jesus é o dono da
Igreja, portanto Satanás continuará exercendo sua forte influência sobre os
filhos de Deus.
A Igreja de Cristo, portanto, é a
única barreira que existe contra o Diabo na terra. Não há nada nem ninguém
neste planeta que seja impedimento para as ações de Satanás. O Diabo não tem
outro inimigo a não ser aquele que é fiel a Deus.
Eu não acredito que o servo de
Deus seja facilmente atraído por ofertas de facilidades na vida cristã. Ele não
acredita em caminho curto. Ele sabe que vai trilhar o mesmo caminho que seu
Senhor e Salvador Jesus Cristo. Assim como Jesus, ele vai saber usar a Bíblia
em seu favor e contra Satanás com a mesma sabedoria do Espírito Santo que Jesus
teve. É isso que pretendo nessa mensagem.
Satanás, o pai do pragmatismo
O pragmatismo, como sistema de
pensamento, parte da concepção de que o homem não é essencialmente um ser
teórico, com preocupações metafísicas. A sua inteligência está voltada para a
concretização dos seus propósitos, que são eminentemente práticos; por isso,
todo o conhecimento tem um objetivo prático. No pragmatismo, temos o rompimento
com o pensamento metafísico; o que importa é a funcionalidade. O correto é
aquilo que funciona ou satisfaz. Assim, o valor intrínseco foi substituído pela
eficácia; ou seja, se funciona, tem valor; as ideias verdadeiras são as que
funcionam, são valiosas. Deste modo, não existem absolutos; tudo é relativo: a
funcionalidade é identificada com verdade e a não funcionalidade é rejeitada
como sendo falsa.
O pastor John MacArthur faz uma
advertência: “Quando o pragmatismo (…) é utilizado para formularmos juízos
acerca do certo e do errado ou quando se torna a filosofia norteadora da vida,
da teologia e do ministério, acaba, inevitavelmente, colidindo com as
Escrituras”.
Satanás é indivíduo competente
para fazer o crente colidir com as Escrituras como tentou fazer Jesus “bater de
frente” com o que estava escrito. Bater de frente com a Bíblia é sinistro de
perda total. E o Diabo sabe disso... Por isso os atalhos oferecidos por ele são
práticos e viáveis do ponto de vista da funcionalidade.
Pela experiência do relato de Mateus 4.1-11, pode-se entender
claramente que as tentações ou atalhos sugeridos pelo Diabo a Jesus continuam
sendo oferecidos desde os púlpitos. As ofertas de facilidades e felicidades se
amontoam nas páginas de livros e periódicos religiosos. Satanás tem tido o
sucesso que não teve com Jesus no deserto.
Quais são então os atalhos
sugeridos pelo Diabo, ainda hoje, baseando-nos no texto acima?
1.
Soluções
mágicas para as nossas necessidades (v. 3)
E,
chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas
pedras se tornem em pães.
O Diabo desafia Jesus como que
dizendo: “Se tu és filho, podes tudo”.
E tem muita gente por aí tentando mandar em pedra. Realizam verdadeiros
absurdos em nome de Deus, agindo como verdadeiros detentores do poder de Deus.
Jesus, que detinha todo poder e
como Filho de Deus tinha todo direito (como bem asseverou Paulo em Efésios 2.1-13),
não se deixou levar por este atalho preferiu apresentar ao Diabo sua condição
de Filho que sabe e conhece as qualidades de um Pai que não permitirá que haja
qualquer prejuízo, afirmando Sua condição de filho satisfeito com as delícias
que saem “da boca de Deus” (v. 4).
Jesus está afirmando que
verdadeiros filhos de Deus se satisfazem com a Palavra de Deus e ponto! Não existe
a necessidade de realização de milagres para se provar coisa alguma...
2.
Acesso
a Deus sem fé madura (vv. 5-6)
Então
o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, E
disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está
escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos,
Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra.
Dentre as mais astutas investidas
do Diabo temos esta que nos desafia a provar não somente que somos filhos, mas
que Deus é nosso Pai. Então que Deus prove que cuida de você, que trata de
você, que não permite um tropeço sequer. Note que na primeira investida Satanás
quer que Jesus prove que é filho de Deus. Agora, ele quer que Deus prove que é
Seu Pai.
Tem muito “profeta” por aí
fazendo este mesmo desafio. Estimulando gente endividada, gente pobre, gente
gananciosa, gente desesperada a acreditar, primeiro, que é filho de Deus.
Parece que o fato de que todos os “enrolados da vida” e desfavorecidos são, por
circunstâncias assim, filhos de Deus. E a gente sabe que não é assim. Depois,
levam estas pessoas a acreditarem que Deus assume todas as promissórias da vida
de seus filhos independente da maneira como tenham assumido seus compromissos;
também não é assim.
É por isso que tem muita gente
por aí arrebentada, espatifada, fragmentada nos desvios da vida, nos atalhos
que o Diabo propôs.
Jesus mostra com sua resposta que
a escolha de subir ao pináculo do Templo foi dele, portanto Deus não deveria se
envolver com a decisão tomada por Jesus. Quando Deus manda, ordena, conduz a
qualquer lugar Ele se encarregará de cuidar, de suster, de ministrar Sua graça.
Jesus estava no deserto, não por decisão própria, mas porque “foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para
ser tentado pelo diabo” (v. 1). Se o Espírito mandou para lá, Ele se
responsabilizará.
Mas tentar a Deus significa que
mesmo quando tomamos certas decisões na vida que estão em desacordo com Sua
vontade, Ele se sente tentado a intervir. Entretanto, julga com justiça o fato
de que não deve se submeter aos ditames de seus filhos, e sim o contrário.
E tudo isso faz muito mal a Deus,
porque Ele sente um desejo enorme de ajudar, mas não o faz, nestes casos, por
dois motivos básicos:
Primeiro, para não deformar o
caráter de seus filhos. Filho mimado é a desgraça de seus pais: “A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha
a sua mãe.” (Provérbios 29.15).
Em segundo lugar, acima de
qualquer outra razão, porque Deus não pode contrariar Sua própria natureza: “Palavra fiel é esta: que, se morrermos com
ele, também com ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos,
também ele nos negará; Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se
a si mesmo.” (II Timóteo 2.11-13).
Como eu entendia esse texto quando
era criança? Entendia que mesmo cometendo as piores atitudes, fazendo as
maiores burradas e cometendo as mais vergonhosas torpezas, Deus não seria capaz
de me condenar, porque apesar de eu mesmo ser infiel, Ele é fiel.
Mas o texto nunca disse isto. Porque
simplesmente Deus nunca seria fiel a mim ou a qualquer outra criatura,
principalmente se for ela for infiel. A Bíblia estaria estimulando uma vida
chula, no mínimo. Paulo não disse “se morrermos
com ele, também com ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se
o negarmos, também ele nos negará;”? Pois é, não é fiel a mim, mas fiel ao
caráter dEle mesmo. Quando Ele faz o que faz é por fidelidade a Si mesmo! Isto
é, Deus não vai mudar para nos atender ou satisfazer. Não vai negar Sua
natureza por minha causa, por mais que Ele me ame. Se Ele não vai mudar se eu
for fiel, ainda menos se eu for infiel!
Quando Jesus afirmou que não
devemos tentar a Deus, está afirmando que apesar de amar muito a Jesus, não vai
negar a Si mesmo, nem para provar que é o Pai de Jesus. Tentar a Deus é
infligir sofrimento a Ele. Isso é algo muito sério. Por isso Jesus disse que
não tentaria a Deus desta forma. Além do mais, Jesus também sabia que iria se espatifar
lá no meio do pátio do templo. Ele conhecia a Pessoa de Seu Pai, muito bem.
O Diabo tenta mostrar Deus como
um ser necessitado de afirmação, inseguro com relação à confiança que seus
filhos têm a respeito dEle. Um Deus emocional que a qualquer choro que vem do
berço, corre desesperado para ver o que é. Um Deus servo e não Senhor.
3.
A
glória sem a cruz (vv. 8-9)
Novamente
o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do
mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me
adorares.
Agora, Satanás entra no estágio
do desespero. Ele já não coloca em dúvida a filiação de Jesus nem a utiliza
para que o Senhor Jesus prove sua condição de herdeiro de Deus. A esta altura
ele finge (e às vezes não) reconhecer que Jesus tem conhecimento de que depende
de Deus e que o conhece intimamente a ponto de saber que é amado por Deus, mas
que este amor não é emocional nem condicionado às decisões que seus filhos
tomam. Por isso, o Diabo tem de reconhecer que Jesus está no caminho certo, no
caminho que Deus planejou para ele: o caminho para a Glória de Deus!
O Diabo sabia qual era o destino
do Filho de Deus: “Olhando para Jesus, autor
e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz,
desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” (Hebreus
12.2). A cruz era um “acidente de percurso”, infelizmente necessário para nossa
redenção (pois se houvesse alternativa, Jesus iria preferi-la, cf.: Mateus 26.42).
Mas Seu destino era a Glória de Deus.
Então o Diabo oferece um último e
sedutor atalho: a glória sem sofrimento.
Ora, o raciocínio é o seguinte: já que você está no caminho certo, e ele te conduzirá
à vitória dos mais que vencedores, então para quê tanto sacrifício?
Esta mensagem, e não preciso me
delongar muito, é a mais pregada aos que afluem às reuniões chamadas
evangélicas deste grande País.
Não sou adepto do masoquismo. Não
gosto de sofrer nem quero, mas nem sempre o que eu gosto é o que acontece. Quem
recebeu a Cristo como Salvador e Senhor sabe, ou deveria saber, quais são as
dificuldades que enfrentará:
Se
o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós
fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo,
antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da
palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me
perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também
guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não
conhecem aquele que me enviou. (João 15.18-21).
Ao contrário do que muita gente
pensa, Deus também não é sádico. Ele não gosta de ver ninguém sofrer. No
entanto, o caminho para a eternidade é apertado.
Mas as dores e sofrimentos do
caminho reto, sem atalho, evitam sofrimentos piores e eternos.
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