segunda-feira, 16 de março de 2015

ATALHOS



Atalhos
(Mateus 4.1-11)
1Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; 3E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. 4Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. 5Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, 6E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra. 7Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. 8Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. 9E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. 10Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. 11Então o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam.

Introdução
Atalhos são desvios que encurtam distância. Nós criamos atalhos chamados túneis. Criamos pontes, que são atalhos. Os atalhos surgem para diminuir distâncias e, com isso, encurtar o tempo da viagem. Precisamos ganhar tempo para proveito nosso.
Mas atalhos não existem no mundo espiritual. Principalmente no que diz respeito à salvação do homem. Os atalhos são na verdade perigosos, embora sejam tentadores e prometam comodidade em contraste com o caminho que é mais difícil e mais longo. Atalhos na vida cristã prometem o mesmo o destino, mas com um preço bem menor. É uma vantagem! É, portanto, uma tentação. Se eu posso ter o mesmo fim sem pagar o mesmo preço que já foi pago, por que continuar neste caminho?
Satanás é um grande construtor de atalhos. Ele não retira você do caminho de uma forma abrupta. Ele simplesmente oferece alternativa menos dolorosa, a princípio, mas que vai dar numa outra direção, diametralmente oposta ao Caminho. Você cede às sugestões diabólicas porque elas se prestam a satisfazer seu desejo de uma vida menos dificultosa e, claro, mais confortável. Atalhos sempre são bem-vindos.
Satanás fez tudo que estava ao seu alcance para dissuadir Jesus a mudar de direção. Ofereceu atalhos significativos apelando das necessidades básicas até aos desejos mais obscuros da alma humana. Satanás acreditou que Jesus, sendo homem, poderia cair em suas ofertas de facilidade e, desse modo, desviá-lo do destino que estava proposto para Ele.

Mais do que qualquer outra criatura, Satanás tem ciência de quem são os indivíduos que constituem aquela instituição que iria se levantar contra as portas do inferno e prevalecer contra elas: a Igreja. Jesus é o dono da Igreja, portanto Satanás continuará exercendo sua forte influência sobre os filhos de Deus.
A Igreja de Cristo, portanto, é a única barreira que existe contra o Diabo na terra. Não há nada nem ninguém neste planeta que seja impedimento para as ações de Satanás. O Diabo não tem outro inimigo a não ser aquele que é fiel a Deus.
Eu não acredito que o servo de Deus seja facilmente atraído por ofertas de facilidades na vida cristã. Ele não acredita em caminho curto. Ele sabe que vai trilhar o mesmo caminho que seu Senhor e Salvador Jesus Cristo. Assim como Jesus, ele vai saber usar a Bíblia em seu favor e contra Satanás com a mesma sabedoria do Espírito Santo que Jesus teve. É isso que pretendo nessa mensagem.

Satanás, o pai do pragmatismo
O pragmatismo, como sistema de pensamento, parte da concepção de que o homem não é essencialmente um ser teórico, com preocupações metafísicas. A sua inteligência está voltada para a concretização dos seus propósitos, que são eminentemente práticos; por isso, todo o conhecimento tem um objetivo prático. No pragmatismo, temos o rompimento com o pensamento metafísico; o que importa é a funcionalidade. O correto é aquilo que funciona ou satisfaz. Assim, o valor intrínseco foi substituído pela eficácia; ou seja, se funciona, tem valor; as ideias verdadeiras são as que funcionam, são valiosas. Deste modo, não existem absolutos; tudo é relativo: a funcionalidade é identificada com verdade e a não funcionalidade é rejeitada como sendo falsa.
O pastor John MacArthur faz uma advertência: “Quando o pragmatismo (…) é utilizado para formularmos juízos acerca do certo e do errado ou quando se torna a filosofia norteadora da vida, da teologia e do ministério, acaba, inevitavelmente, colidindo com as Escrituras”.
Satanás é indivíduo competente para fazer o crente colidir com as Escrituras como tentou fazer Jesus “bater de frente” com o que estava escrito. Bater de frente com a Bíblia é sinistro de perda total. E o Diabo sabe disso... Por isso os atalhos oferecidos por ele são práticos e viáveis do ponto de vista da funcionalidade.

Pela experiência do relato de Mateus 4.1-11, pode-se entender claramente que as tentações ou atalhos sugeridos pelo Diabo a Jesus continuam sendo oferecidos desde os púlpitos. As ofertas de facilidades e felicidades se amontoam nas páginas de livros e periódicos religiosos. Satanás tem tido o sucesso que não teve com Jesus no deserto.

Quais são então os atalhos sugeridos pelo Diabo, ainda hoje, baseando-nos no texto acima?

1.    Soluções mágicas para as nossas necessidades (v. 3)
E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães.

O Diabo desafia Jesus como que dizendo: “Se tu és filho, podes tudo”. E tem muita gente por aí tentando mandar em pedra. Realizam verdadeiros absurdos em nome de Deus, agindo como verdadeiros detentores do poder de Deus.
Jesus, que detinha todo poder e como Filho de Deus tinha todo direito (como bem asseverou Paulo em Efésios 2.1-13), não se deixou levar por este atalho preferiu apresentar ao Diabo sua condição de Filho que sabe e conhece as qualidades de um Pai que não permitirá que haja qualquer prejuízo, afirmando Sua condição de filho satisfeito com as delícias que saem “da boca de Deus” (v. 4).
Jesus está afirmando que verdadeiros filhos de Deus se satisfazem com a Palavra de Deus e ponto! Não existe a necessidade de realização de milagres para se provar coisa alguma...

2.    Acesso a Deus sem fé madura (vv. 5-6)
Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra.

Dentre as mais astutas investidas do Diabo temos esta que nos desafia a provar não somente que somos filhos, mas que Deus é nosso Pai. Então que Deus prove que cuida de você, que trata de você, que não permite um tropeço sequer. Note que na primeira investida Satanás quer que Jesus prove que é filho de Deus. Agora, ele quer que Deus prove que é Seu Pai.
Tem muito “profeta” por aí fazendo este mesmo desafio. Estimulando gente endividada, gente pobre, gente gananciosa, gente desesperada a acreditar, primeiro, que é filho de Deus. Parece que o fato de que todos os “enrolados da vida” e desfavorecidos são, por circunstâncias assim, filhos de Deus. E a gente sabe que não é assim. Depois, levam estas pessoas a acreditarem que Deus assume todas as promissórias da vida de seus filhos independente da maneira como tenham assumido seus compromissos; também não é assim.
É por isso que tem muita gente por aí arrebentada, espatifada, fragmentada nos desvios da vida, nos atalhos que o Diabo propôs.
Jesus mostra com sua resposta que a escolha de subir ao pináculo do Templo foi dele, portanto Deus não deveria se envolver com a decisão tomada por Jesus. Quando Deus manda, ordena, conduz a qualquer lugar Ele se encarregará de cuidar, de suster, de ministrar Sua graça. Jesus estava no deserto, não por decisão própria, mas porque “foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (v. 1). Se o Espírito mandou para lá, Ele se responsabilizará.
Mas tentar a Deus significa que mesmo quando tomamos certas decisões na vida que estão em desacordo com Sua vontade, Ele se sente tentado a intervir. Entretanto, julga com justiça o fato de que não deve se submeter aos ditames de seus filhos, e sim o contrário.
E tudo isso faz muito mal a Deus, porque Ele sente um desejo enorme de ajudar, mas não o faz, nestes casos, por dois motivos básicos:
Primeiro, para não deformar o caráter de seus filhos. Filho mimado é a desgraça de seus pais: “A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe.” (Provérbios 29.15).
Em segundo lugar, acima de qualquer outra razão, porque Deus não pode contrariar Sua própria natureza: “Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.” (II Timóteo 2.11-13).
Como eu entendia esse texto quando era criança? Entendia que mesmo cometendo as piores atitudes, fazendo as maiores burradas e cometendo as mais vergonhosas torpezas, Deus não seria capaz de me condenar, porque apesar de eu mesmo ser infiel, Ele é fiel.
Mas o texto nunca disse isto. Porque simplesmente Deus nunca seria fiel a mim ou a qualquer outra criatura, principalmente se for ela for infiel. A Bíblia estaria estimulando uma vida chula, no mínimo. Paulo não disse “se morrermos com ele, também com ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará;”? Pois é, não é fiel a mim, mas fiel ao caráter dEle mesmo. Quando Ele faz o que faz é por fidelidade a Si mesmo! Isto é, Deus não vai mudar para nos atender ou satisfazer. Não vai negar Sua natureza por minha causa, por mais que Ele me ame. Se Ele não vai mudar se eu for fiel, ainda menos se eu for infiel!
Quando Jesus afirmou que não devemos tentar a Deus, está afirmando que apesar de amar muito a Jesus, não vai negar a Si mesmo, nem para provar que é o Pai de Jesus. Tentar a Deus é infligir sofrimento a Ele. Isso é algo muito sério. Por isso Jesus disse que não tentaria a Deus desta forma. Além do mais, Jesus também sabia que iria se espatifar lá no meio do pátio do templo. Ele conhecia a Pessoa de Seu Pai, muito bem.
O Diabo tenta mostrar Deus como um ser necessitado de afirmação, inseguro com relação à confiança que seus filhos têm a respeito dEle. Um Deus emocional que a qualquer choro que vem do berço, corre desesperado para ver o que é. Um Deus servo e não Senhor.

3.    A glória sem a cruz (vv. 8-9)
Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.

Agora, Satanás entra no estágio do desespero. Ele já não coloca em dúvida a filiação de Jesus nem a utiliza para que o Senhor Jesus prove sua condição de herdeiro de Deus. A esta altura ele finge (e às vezes não) reconhecer que Jesus tem conhecimento de que depende de Deus e que o conhece intimamente a ponto de saber que é amado por Deus, mas que este amor não é emocional nem condicionado às decisões que seus filhos tomam. Por isso, o Diabo tem de reconhecer que Jesus está no caminho certo, no caminho que Deus planejou para ele: o caminho para a Glória de Deus!
O Diabo sabia qual era o destino do Filho de Deus: “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” (Hebreus 12.2). A cruz era um “acidente de percurso”, infelizmente necessário para nossa redenção (pois se houvesse alternativa, Jesus iria preferi-la, cf.: Mateus 26.42). Mas Seu destino era a Glória de Deus.
Então o Diabo oferece um último e sedutor atalho: a glória sem sofrimento. Ora, o raciocínio é o seguinte: já que você está no caminho certo, e ele te conduzirá à vitória dos mais que vencedores, então para quê tanto sacrifício?
Esta mensagem, e não preciso me delongar muito, é a mais pregada aos que afluem às reuniões chamadas evangélicas deste grande País.
Não sou adepto do masoquismo. Não gosto de sofrer nem quero, mas nem sempre o que eu gosto é o que acontece. Quem recebeu a Cristo como Salvador e Senhor sabe, ou deveria saber, quais são as dificuldades que enfrentará:
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou. (João 15.18-21).

Ao contrário do que muita gente pensa, Deus também não é sádico. Ele não gosta de ver ninguém sofrer. No entanto, o caminho para a eternidade é apertado.
Mas as dores e sofrimentos do caminho reto, sem atalho, evitam sofrimentos piores e eternos.

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